quarta-feira, 1 de agosto de 2007

A solidão dos nossos idosos...


A languidez apoderou-se de mim e da minha vontade de escrever... Afinal, estou de férias!...
O meu trabalho tem sido desenvolvido primordialmente na arte de observar....Mas hoje o meu "eu", o meu "mundo interior" decidiu querer escrever e confraternizar com o meu mundo exterior/envolvente e ...observo...observo...Tantos pormenores , tanta superficialidade/ intimidade ... Para cada estado procuro sempre a sua dualidade , o seu estado oponente...E observo: a correria das pessoas, a ilusão das grandes massas...os centros comerciais repletos...os MacDonalds com filas enormes... Contrariamente, observo especialmente os idosos que estão completamente sós...vazios. Rostos que espreitam na janela das suas casas, procuram desesperadamente " o outro", nem que seja simplesmente a sua imagem... O elo de ligação com o mundo parece ser a janela que os põe em contacto com o mundo exterior, a rua...Será que estes rostos têm família, filhos? Existirão ? Onde estão? O meu coração fica apertadinho...tenho tanta pena...Por que será que os filhos abandonam os seus pais e os netos os seus avós?...Será que não foram bons pais, bons avós?...Mas ouço as histórias ...e observo... Os filhos desculpabilizam-se: não podem ficar com os seus pais (velhos) porque têm de trabalhar, não podem deixar de trabalhar para tomarem conta deles...A vida está "cara", não têm nem tempo, nem oportunidade!!! Eu questiono-me : então, quando os filhos eram pequenos , os pais não precisavam de trabalhar para os sustentarem? Geralmente respondem: bem... iam para os infantários, para as amas, ficavam com a empregada doméstica ou ainda com os avós... Será que os mesmos filhos, agora adultos, não poderão fazer o mesmo pelos seus pais? Levá-los para um centro de dia e ir buscá-los, no final do trabalho, arranjar uma empregada?!...Não haverá outras soluções que não as do abadono?
A solidão , a indiferença são formas terríveis de castigar os que nos amaram...Um dia, seremos como eles e não gostaríamos de nos sentir vazios, insignificantes, nulos, sem valor, carentes, sem afectos , simplesmente SÓS e entregues aos outros, que possivelmente nos tratarão consoante a sua sensibilidade, formação moral e valores. Estaremos então entregues à sorte, às fragilidades, talvez ao abandono...
Que valores, pois, têm sido transmitidos às sucessivas gerações ? Que poderemos nós oferecer aos nossos idosos?

4 comentários:

Unknown disse...

Por vezes também me deixo levar por esses pensamentos...

Que será que pensao "um filho" que deixa o seu pai ao abandono? Não terá ele consciência, ou até somente racionalidade suficiente para ver que um dia será ele naquela posição?
Senão faz o bem aos seus pais, por eles mesmos, que o faça então por si. Pela esperança de que quando chegar a idade deles, alguém também lhe fará o mesmo....


vejo o caso muito perto de mim... pela dedicaçao da minha mae ao meu avô, sei que um dia será ela a ter todo aquele carinho e amor... tanto que ela o merece.

Ja a sua irmã, que tanto ignora o seu pai, já é ignorada pelas filhas... as vezes tenho pena do futuro dela.. será genético?

maria cecilia disse...

Muito obrigada pelo comentário , abraço.

Ludovina Azevedo disse...

Esta postagem choca-me principalmente por não puder fechar os olhos, abri-los de novo e acreditar que nada disto é verdade. Uns dizem que após a morte temos o céu e o inferno, pois..o inferno muitas vezes está aqui nesta fase..um pesadelo ao qual muitos não conseguem fugir, mesmo que durante o percurso da vida tenham merecido o melhor lugar no Céu.
Um abraço com muitas muitas saudades!

maria cecilia disse...

obrigada pelo teu comentário, saudades tb e um grande abraço